segunda-feira, fevereiro 24, 2014

A VIDA É PERNAMBUCANA


Na minha vida profissional tive até aqui a sorte de contar com Recife, Gravatá, Garanhuns e outras cidades de Pernambuco como local de trabalho em shows dos quais participei.

Na correria das obrigações e compromissos, o tempo para mergulhar no mar cultural daquele estado vinha sendo invariavelmente curto. E, muitas vezes, nas poucas oportunidades que tive, as pessoas locais que podiam me orientar estavam envolvidas no mesmo trabalho que nós, músicos, não sobrando muito tempo a mais alem do que dar uma volta, curtir a maravilhosa culinária do sertão e do mar (afinal, temos que nos alimentar,  que então seja da melhor maneira), o que já é um grande programa.

Eu considero o pernambucano um dos povos mais ciosos da sua cultura, do seu estado, da sua história. Algum folclorismo existe na alegada capacidade de creditarem para sua gente todo o mérito da invenção de tudo, de serem detentores de recordes, da maior isso, do primeiro aquilo, sem falar da rivalidade regional com baianos. Essa ultima, aliás, eu, como baiano posso constatar:  só passa de folclore por quem leva a sério. E como eu não vejo xenofobia de outra forma que não piada, brinco de volta, como dois velhos parceiros implicam um com o outro. Afinal, quem melhor cantou uma pernambucana do que o baiano Caymmi, descrevendo  Dora, a rainha do Frevo e do Maracatu?

Quantas “Doras” existem no Recife, sabedoras de sua cultura, conhecendo a história de sua terra, com olhos brilhando de entusiasmo ao falar dos frevos, cirandas, maracatus, de personagens  do lugar? Quantas para lhe puxar pela mão levando a conhecer o  forte coração pernambucano através do próprio coração? No passo flutuante do frevo de um Capiba, mas também na literatura profunda de um Suassuna?

Agora,  primeira vez  em que estive no Recife na época de maior fervor cultural, que é exatamente esta que antecede o carnaval e passa por ele (sim, porque em Pernambuco carnaval preserva sua cultura, não só entretenimento) , perdi muita coisa no ultimo dia de estada, um domingo que seria de muita atividade de cirandas, caboclinhos, maracatus, o que não pude curtir por causa do horario de embarque para o Rio, mas no dia anterior tive a oportunidade de conferir um dos eventos mais importantes, pré carnavalescos da cidade, o Baile Municipal. Comandados por Spok e sua orquestra de frevo,  artistas como Elba Ramalho, Alceu, Antonio Nóbrega, Jorge du Peixe, Nação Zumbi e outros desfiaram pentagramas de toneladas de musicalidade e energia das mais positivas. Êxtase para um músico ver os colegas fazendo tão bonito a nossa autentica música brasileira. E para foliões nas fantasias  mais diversas e criativas, alegria e muita paz.  Um banho de vida, na alma pernambucana. 

Eu quero aqui agradecer a uma autêntica “Dora”,   diante da minha gratidão baiana,  a aula de “pernambucanidade”, por me mostrar Recife, pela alegria e o carinho.



Aldja Tavares, muito obrigado.