quarta-feira, maio 10, 2006

Quando as crianças saírem de férias - publicado originalmente no Jornal do Comercio do Recife - Pe


Brasília, final do ano de 1972. A família Barreto de Sá Teles completava um ano de Planalto Central. Um planalto verde oliva, mudo em português, surdo em esperanto, cego de esperanças num tempo em que aprender as coisas, os significados dos símbolos, das letras das músicas, era um jogo mais perigoso para quem ensinava do que para quem tentava entender. Eu, com dez anos de idade, tentava entender porque o pai do meu amigo estava preso, porque era tão emocionante se ouvir aquela música, escondido, que dizia: "Caminhando e cantando..."

Seria proibido ir caminhando da 109 Sul até a escola, na 107, cantando? Porque a preocupação da professora quando falei que queria ser presidente da república, ao mesmo tempo em que perguntava como se fazia para se tornar general, e então, presidente?


Minha grande família havia deixado Salvador há pouco mais de um ano, fugindo da dor da partida de um dos nossos, meu querido irmão Toinho. Talvez na vastidão do Planalto Central, tão perto do céu, estivéssemos mais próximos dele, onde as grandes almas se espalham, e mais longe da saudade que o nosso sobrado na Rua da Imperatriz, em Salvador, nos impunha desde o sobressalto de sua inesperada partida, aos 17 anos de idade.

Brasília nos apresentava odores e sabores diferentes, além de um ar seco e um céu claro e sol ofuscante. A praia do Mont Serrat da minha Salvador de um ano atrás era agora um sonho de férias. A saudade dos amigos de diversas classes sociais com os quais eu convivia empinando arraia, pescando maria-preta, caçando ratazanas nas casas abandonadas da Bahia, disputando rinhas de vira-latas também me doía. Não compreendia a necessidade de tênis, meia, camisa, bermuda com cinto, naquelas crianças na superquadra, se não havia festa nenhuma às 3 da tarde, depois da escola, nem era dia de missa. Cheguei a brigar algumas vezes, por conta dessas diferenças. Mas encontrei nas famílias dos porteiros e das empregadas, as minhas primeiras amizades na capital. Eram crianças como eu, de descalça origem nordestina, mesmo tendo sapatos. Depois capitulei. Em pouco tempo eu também estava de tênis, meia, etc...E mais amigos.

Mas já se passara um ano. O meu pai havia comprado uma Rural Willys/Ford, um veículo bem apropriado para uma família de oito filhos. O jipão em duas cores - verde capim e branco - significava uma coisa maravilhosa: Férias!

Meu pai nunca aprendeu a dirigir automóveis, por isso a condução dos carros lá de casa ficava a cargo dos meus irmãos mais velhos, Zé e Raimundo. Estes, inclusive, incrementaram a Rural com talas largas e um rádio Blaupunkt AM que certamente atenderam à necessidade daqueles dois jovens de inserir no carro do professor a estética dos corcéis, dodges, opalas e fuscas dos seus amigos de juventude.

Mas agora a Rural rodava potente pela estrada rumo à Bahia. Os sanduíches de queijo do reino, a galinha assada, a gigantesca garrafa térmica com café ainda cheiravam na cabine do carrão abarrotado de uma gente feliz por ser amada. Joseane, Gaia, Rose, Ana Ruth, Josette, Raimundo, Zé, João, Dona Ruth e o Professor Sá Teles.

No rádio Blaupunkt, entre chiados e estática, Roberto Carlos cantava: "Quando as crianças saírem de férias, talvez a gente possa então se amar...Um pouco mais".


Fico imaginando oito filhos do amor, perguntando, apertados numa Rural: !!! MAIS !?!?

20 comentários:

Anônimo disse...

Bani, você tá arrebentando, lindos textos!

abs

ps: e aquele feijão de corda com original(originais!!) no Grajaú? na outra vez não pude ir, estou esperando a próxima!

João Bani disse...

Fala fiscal, meu camaradja!
Meu irmão, a carne de sol com Original fica dependendo somente de você dizer que dia e hora vai aparecer. Diga com antecedência para eu poder curar a carne de sol de modo que ela fique no ponto!
grande abraço
JB

Anônimo disse...

Véia que maravilha de texto cheguei a sentir fome daquele cheiro de galinha assada! Minha família vc sabe é uma tribo tbem e já fizemos ralis como esse, mas até Araxá e o mais longe que fomos foi pro Rio! Parabéns véia, lindo texto! Bjs, muito som
Renio Quintas

Anônimo disse...

Nussa!!!! Q lindo texto Bani! Amei, de verdade.
O legal é q é real, e, vem de você!
PARABÉNS pelo blog
Estarei sempre aqui, com certeza.
bjux

Anônimo disse...

Vai vir pra sampa sexta é?
Mais um super show em sampa hein?!
Pena q naum vou poder ir nesse tb...
Mta música pra ti

João Bani disse...

Obrigado amigos queridos.

Véia Rênio, aquele frangão assado com farofa, aquela parada debaixo de umbuzeiro ou de um cajueiro frondoso para comer o farnel...Ê vida, ê norte, ê Brasília,ê sertão das Gerais e da Bahia..Meu irmão, que vida bem vivida...Nada fácil, mas bem vivida.

Renatinha, infelizmente não tocarei em Guarulhos.
Por conta da economia , o contrato desse show dispensou os meus barulhos... Como se eu fosse tão caro assim...
E os do Zeppa e do Sergio Galvão também. Só irão o Hiroshi, o Cavallo e o Cris acompanhando JV.

beijos

JBani

João Bani disse...

Fernanda, querida.
Muito obrigado por prestigiar esse meu mural.
beijos
JB

Anônimo disse...

Vixi, q absurdo!!!! Então, quer dizer, que se eu fosse nesse show, não iria te ver de novo? oxente
Que chato isso.
Uma enorme pena!!!
Não vais deixar Jorge, né verdade?
Por onde anda Paulo Renato hein Bani? rs
bjux

João Bani disse...

Renatinha,
Se o artista tem de ir aonde o povo está, o músico que o acompanha vai quando é chamado. Isso é muito normal, nem sempre é possível fazer um show com banda inteira. Mas cada um tem que se virar, e assim não existe exclusividade, só continuidade, no máximo. E ninguém deixa ninguém: Cada um escolhe com quem trabalhar, quando pode exercer esse direito de escolha, ou quando a necessidade se impõe.
beijão
JB

Anônimo disse...

Grande Bani!
Adorei conhecer o seu blogger. Lindo esse texto... falando da sua vida. Fiquei encantada! Fiquei mais fã do seu trabalho!
Tudo de bom pra ti!
Bjos,

Anônimo disse...

Bani...saudades de vc...da vania...dos meninos...do grajau...de tantas coisas boas....onde anda vc??????
Sucesso no blog...o texto é lindo...aliás como anda aquele projeto de livro com cronicas que vc escreveu na m-musica?
Tania

Anônimo disse...

Bani Boy

Tú é show de bola fio...rs

Anônimo disse...

Amor, tudo aqui está lindo, lindo. Não só o que vc escreve - que pra mim não é nenhuma novidade - mas a participação e o carinho dos amigos também. Me deu até ciúme, pq o meu blog não está tendo todo este sucesso...
Te amo muito.
beijo,
Nika

João Bani disse...

Nika,
Seu blog http://vanialst.blog.terra.com.br/ é maravilhoso, pois a Lua, em todas as suas fases , é sempre bela e paira sempre acima de mim, como você.
te amo
João

Anônimo disse...

Sorte a nossa, os calangos candangos, que os Teles tenham chegado a Brasília! Irmão querido!!! Que delícia entrar aqui! Saiba que eu, cada vez que me deparo com outra onda "bânica" de amor contaminando o mundo, também me pergunto: MAIS?!!

Fórum da Música PE disse...

Grande Bani, mandando bem, belas imagens, são esses momentos que a gente carrega pra sempre, demais.

Alexmono

João Bani disse...

Querida Maria, que saudade!
Preciso ir a Brasília refazer percursos, rever amigos, relembrar isso tudo que nossa candangolândia nos evoca.beijão

Mestre Alex Mono, craque! Obrigado pela visita, vou tentar postar todo dia.

abração,

JBani

Anônimo disse...

Oiii Bani,tudo bem contigo???
Seu blog está lindo.Eu amei a historia que vc contou para nós..muita linda.
Parabéns!!
Sucesso pra vc hoje e sempre.
Bjão
Paloma.

Anônimo disse...

Bani!
Sensacional!
Amei...
Lu!
Seu blog dá fome!rs!

Fábio Nascimento disse...

Puta Texto Bani!
Aprendendo com quem sabe de verdade!!