ESSA É UMA OBRA DE FICÇÃO. QUALQUER SEMELHANÇA COM PESSOAS
OU FATOS SERÁ MERA COINCIDÊNCIA. (João Bani)
Salvador, julho de 2016.
Sobre o aparador da sala, um porta retrato com imagens da
família numa lancha, tendo ao fundo a
famosa Ilha da Caraíba, em Santa Cruz, BA,
um pedaço de paraíso que ficou conhecido nacionalmente em 2007 quando a Operação Jaleco Branco, da Policia
Federal, encarcerou temporariamente Marcelão, seu pai.
Oferecendo um copo, que recuso, de um legitimo Blue Label (o
seu preferido, Green, saiu de produção – “Deixou saudades”, diz ele) Marcelinho
deixa soar um suspiro saudoso, reminiscências de um tempo de poder na politica
e no futebol da Bahia. Seu olhar repousa por alguns segundos na janela,
parecendo buscar no horizonte o passado que perdeu.
-O assunto vai ser política partidária ou política do Bahia?
– me pergunta o ex-deputado e ex-presidente do maior clube do Nordeste e um dos
maiores do Brasil. – vamos adiante.
-O Bahia foi o meu maior acerto e meu maior erro. Minha vida foi conduzida por
meu pai tanto para a politica quanto para o Bahia. Por não ser sinceramente da
minha vontade, fracassei em ambos.
Pergunto se o Centro de Treinamento criado na sua gestão não
lhe orgulhava, ele desconversa, para finalmente revelar:
-Eu era refém da OES. Nós não conseguíamos obter patrocínio
com nenhuma outra grande empresa, que justificasse o Bahia envergar a marca. Perdemos
várias possibilidades devido a questões contábeis e legais do clube. Reconheço:
fui leniente. Por isso, quando o Carlão (Carlos Barreiros, presidente da OES)
numa festa na casa de Duda, me revelou que a empresa estava de olho na região
de Lauro de Freitas para construir um grande conjunto residencial, eu meio que
de brincadeira, perguntei se ele não queria comprar o Fazendão...(risos). Daí,
em diante, a história é conhecida. No que pode ser conhecida... A Cidade
Tricolor,e um patrocino anual certo, ainda que modesto, mas segurou muita coisa
para nós.
Pergunto sobre o futebol, as decepções e alegrias.
-O futebol para mim era algo que conseguia suprir minha
pretensão. Tirar o clube da série B foi uma realização que estava do tamanho do
que eu achava suficiente para o Bahia. Quando vi que a contratação de
Angioma tinha me auferido aquela
conquista, relaxei e deleguei, deixei
Angioma livre para cuidar do futebol , negociar, etc...Havia atritos
dele com Nilton na questão da base, mas tudo era resolvido pelos empresários
dos meninos. As contratações eram definidas por Angioma e empresários
influentes, alguns dos quais me foram apresentados pelo Senchez, como o Carlos
Milk, por exemplo.
Reporter: E a Calcio?
-A Calcio precisava ser criada. Ninguém no futebol se
empenha por diletantismo, por entrega. Só a torcida... rsrs...A Calcio era o
suporte para o Bahia II, aquele que tinha prestigio na base e suas competições e seleções de
base, mas parava por aí. Já no profissional, havia outro grupo de interesses.
Se na Calcio/base o foco era a venda, no grupo de empresários de Angioma o foco
era a aquisição de jogadores desempregados. Mas havia situações em que esses
focos se entrelaçavam.
Reporter: Angioma foi um acerto?
- De alguma maneira, acredito que sim. Como falei, nos legou
a subida para a série A. Mas cedeu demais aos seus empresários chegados, quando
montou aquele time que disputou o baiano, em 2011. Ele menosprezou o campeonato
baiano e resolveu montar uma “creche” de jovens jogadores formados, mas rejeitados
por times do sul/sudeste, depois de
profissionalizados. Ignorava solenemente nossa base, salvo se algum dos seus
empresários passasse a gerenciar a carreira.
O episódio dos jogadores no fim de 2010, que romperam com o clube, como
Alysson, Fernando, a briga de Jael, tudo isso era Angioma impondo quem ele
queria e quem ele não queria no elenco. Eu lavei as mãos: O futebol do Bahia
estava sob direção de um profissional reconhecido e famoso. Não era
responsabilidade minha...
Reporter: E as promessas não cumpridas? De democratização,
de abertura para os sócios?
-O torcedor do Bahia é um abnegado. A participação política
do tricolor sempre foi sua presença vibrante nas arquibancadas. Nem teria
condições de arcar com despesas mensais
de associação. A direção deve ser feita por quem tem segurança
econômica. Esses representantes históricos do Bahia, como meu pai, como o Paulo
(Maracujá) e outros deram muito de si para esse clube. A conta não estava paga
ainda...
Reporter:...Até chegar a intervenção?
- Sim, até chegar aquele movimento politico comandado pelo
PT de Jacques Wagner. Aquilo foi uma violência desmedida, em conluio com
publicitários... E o preconceito contra a “Ribeira”? Eles queriam certamente “a
turma do Itaigara” , não da Ribeira, no comando. Falando em PT, uma grande decepção foi a contratação de Cristóvão, que depois
descobri ser filiado e fundador do PT...
Reporter:...E que legou ao torcedor o quarto lugar no
Brasileiro de 2013 e o terceiro título nacional em 2015, ano passado...?
- Mas ele fez tudo sob a estrutura que montei! A cidade
tricolor, principalmente, foi um diferencial tremendo. O Bahia hoje entra em
campo como time grande
Reporter:...E passou a entrar com os salários em dia, as
contas saneadas, aliado a uma fortíssima marca, com 60 mil sócios, com um valor de patrocínio entre os cinco
maiores do Brasil, tendo passado para a terceira faixa de cotas de TV...
-Mas tudo isso foi resultado do trabalho que iniciei, não
tenha dúvida!
Reporter: A auditoria feita no Clube durante e após a
intervenção acabou levando o Senhor e outros ex-dirigentes a mais de um
processo criminal. Pelas apurações solicitadas pelo Dr. Rátis...
-NÃO PRONUNCIE ESSE NOME NA MINHA CASA!!! SEU MOLEQUE!!!
RISADINHA...Ô RISADINHA! TIRE ESSE REPORTER DAQUI AGORA, BOTE ESSE CARA PRA
RUA, JÁ!!!
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