Obrigado, Mãe Bahia.
Baianos são nômades. Apesar da adoração pela própria origem,
metem o pé no mundo e levam seu berço a todo lugar. Uma identidade cultural
forte, quase religiosa, sincrética, ou melhor: sincrétnica, mas
fundamentalmente própria se mostra em vários cantos e amplos do mundo.
O Rio de Janeiro, essa histórica Meca nacional, tem uma
população de baianos que nos leva a imaginar que se o Rio e Bahia fossem países
diferentes, baianos teriam Green Card na Terra de São Sebastião. São muitos:
natos baianos do dendê ou cariocas da
gema filhos e netos de baianos exercendo todo tipo de atividade: não vamos cair
no estereótipo da música ou das artes. Estamos nelas sim, mas fundamentalmente
estamos em todo ramo de atividade. O túnel Rebouças que reúne a Zona Sul à Zona
Norte, por exemplo, tem seu nome em homenagem a dois irmãos de Cachoeira que
fizeram história na corte carioca: André e Antonio Rebouças, pilares da nossa
engenharia, e num tempo escravista, negros abolicionistas. E baianos. Como são baianos muitos jovens profissionais
que trazem sua força de trabalho e talento ao Rio hoje em dia.
Mas para o torcedor do Bahea, vale mesmo é que o túnel lembra Roberto Rebouças, zagueiro
padroeiro da defesa tricolor, e liga a Zona Sul à Zona Norte, onde ficam Vila
Isabel e o Andaraí, os bairros que disputam a localização da Trigo e Cevada,
onde se concentra a Embaixada Tricolor Bahea da Guanabara para assistir os
jogos do Bahia.
Neste domingo, a expectativa que havia de acompanharmos o
tricolor se esvaiu com as noticias de que o PFC não transmitiria o jogo. Ignorou
completamente a razão, bom sujeito não foi, e , ruim da cabeça, chutou nossa
perspectiva com seu pé doente. Mas somos da turma tricolor: um laptop com conexão
e um site transmissor de sinal da TV Bahia, de Salvador (é essa pirataria de
sinal que eles querem estimular?) nos fez tentar, a lentos quadros por muitos segundos e até mi,
tentar acompanhar o jogo entre Bahia e Vitória da Conquista.
Sinceramente, quando escrevo esse texto, nem tenho como
detalhar nenhuma emoção do jogo em si, pelo que acontecia nele. A tortura era
tanta, pelas precárias condições de acompanhar a luta tricolor em campo,
em imagens que congelavam após um lançamento em direção
ao gol adversário,ou aquela troca de passes invadindo a área do bode,que o
grito de gol nunca foi tão surdo. Porque se frustrava na própria expectativa do
fim da jogada. Havia uma jogada de perigo e ela parava na Rede Sacana de Computadores.
Cobrança de lateral ou comentaristas falando abobrinha, tudo bem: parecia que estávamos
em tempo realmente real, a transmissão corria solta e leve. Mas bastava o tricolor partir para cima
articulando nossas expectativas e ...Travava.
Ficávamos esperando o tempo da transmissão se regularizar na
esperança de podermos ver algum dos nossos vibrando em direção à torcida.
Nada.
Até que tudo parou de vez. A transmissão caiu. Nada se sabia sobre
o jogo do Bahia. Minutos terríveis se passando naquele zero a zero que
eliminaria o tricolor da final. E oito bravos tricolores baianos no Rio se calaram. Nossas
mentes foram invadidas por tudo que o silêncio pode proporcionar aos 42 minutos
do segundo tempo com seu time caminhando para uma eliminação. Todo tipo de imaginação,
toda multiplicação da tristeza.
Então um telefone tocou.
O que pode gerar um celular tocando num bar? Nada de
especial, muitas vezes nem seria atendido. Mas não esse.
Alguém teve esperança:
-Foi gol.
Cada um de nós olhou para aquele aparelhinho com olhos de
fome feliz, esperando um sorteio, uma notícia boa do ultimo sopro de esperança
O Dono atendeu:
- Oi mãe, e aí?
Os olhos do filho brilharam felizes,
- GOL DO BAHEA PORRA!!!
Dona Ana, mãe do Mateus “Coroa”, muito obrigado, minha
querida tricolor.
A senhora, quando ligou de Salvador para dar um presente ao seu filho aqui no Rio,
adotou prontamente mais sete "filhos".
Meu número é 8602 7761. Fique à vontade pra me fazer
feliz sempre que quiser.
João Bani
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