quinta-feira, dezembro 02, 2010

BUNGEE JUMPING JACK FLASH

Nunca fui de esportes. Era um péssimo gandula nos jogos colegiais, um verdadeiro cofre na natação, um bicho-preguiça no atletismo.O coração viajante nas reentrâncias das meninas de short, inacessíveis à minha cara de "CDF" , o "nerd" daqueles tempos, um ser estranho ao suor da juventude.
O quatro-olhos.
Cresci, me formei, me bem-sucedi profissionalmente numa grande empresa, casei e meu coração um pouco mais velho começou a vagar nos riscos da nostalgia, da busca do tempo perdido em mais tempo de vida com esportes, com emoções. Passei a reforçar o coração com caminhadas em altas conversas matinais.
Queria mais
Ousar
Mas o passado ferrenho intimidava a coragem tardia

Um sopro de valentia me trouxe a solução
Deixei o medo esquecido, entre teias no porão
Pra não deixar que a emoção na minha alma se feche
Hoje mergulho em vazios
BUNGEE JUMPING JACK FLASH!

quinta-feira, novembro 25, 2010

Meus alunos da Vila Cruzeiro no Coração do Conflito

Toda sexta feira eu pego o ônibus 622 rumo à Penha, para meu trabalho semanal no Projeto Social IBISS, no coração da Vila Cruzeiro, onde dou aulas de percussão.  A Vila Cruzeiro é uma das favelas de maior situação de risco social, sede do comando da maior facção armada do tráfico na cidade. Ontem, o Brasil viu mais uma vez cenas de confronto no local, com vários mortos. 

Um percurso de uma hora de ônibus, daqui do Grajaú até lá, que passa por cenas de transformação e degradação social. Transformação na reurbanização, nas obras do Teleférico,  nos conjuntos habitacionais. Degradação nos zumbis “crackudos” que vemos vagando nos bairros do subúrbio do Rio, rota do 622 até a Penha. 

Descendo do ônibus,  até a sede do Projeto, vou caminhando entre pastores pregando o evangelho, biroscas que vendem de tudo, funk e gospell nos autofalantes das rádios comunitárias, balcões de frutas e DVDs piratas, motos, muitas motos de diversos modelos se impondo sobre todos os passantes, borracharias, quitandas, vira-latas, uma gigantesca porca com uma cria numerosa comendo lixo abandonado a céu aberto, mães levando os filhos à escola, e muitos sentinelas armados, muito bem armados, de quem comanda o lugar. 

O Projeto fica num prédio bem equipado, erguido ao lado do “Campo da Ordem e Progresso”, onde cresceu aprimorando a sua “bomba santa” o jogador Adriano. Tem salas de atividades culturais, atendimento médico, psicológico, dentista, piscina semi olímpica e quadra de esportes. 


O entra e sai da criançada no Ibiss, que trabalha também com outras faixas de idade, varia muito de acordo com a situação: Tempo de vento eles ficam na rua, soltando pipa. Muito calor, vão à piscina. Mas a nossa percussão das sextas feiras criou já uma turma  fiel. E entre caixas, pandeiros, surdos, repiques, congas e atabaques, na convivência com essa criançada eu vi muito mais valores positivos do que qualquer coisa. Pela criatividade, pelo talento musical natural, capacidade de improviso, pela educação e comportamento moral nem sempre encontráveis em jovens e crianças de melhor berço, e por me  mostrarem que crianças são crianças em qualquer  lugar. Nem sempre “o meio” as modifica.

Imagino que muitos que só conhecem o que ocorre nas favelas do Rio através da mídia,  devam achar que a situação seja um pacto social próprio entre traficantes e moradores, onde os primeiros são os protetores e os segundos os protegidos. Na verdade os primeiros são outros opressores e os segundos, os de sempre oprimidos. Além da opressão histórica determinada pelo descaso dos poderes públicos e da sociedade “civilizada”, quando os escravos libertos tiveram suas “novas senzalas” determinadas nos piores locais das cidades, na criação das favelas, desde que o crime “se organizou” eles convivem entre dois fogos.

Meses atrás, num dia de aula, um esparso tiroteio começou a se ouvir relativamente perto, e uma menina de uns cinco anos se agarra em mim, tremendo de medo. Outra chora. Quem tá acostumado, quem se acostuma com isso?

Ontem uma jovem de 14 anos foi baleada (Por quem? Nunca se sabe) e morreu. Balas encontradas de uma sociedade perdida não têm CEP, nem telefone, nem email. Rosangela freqüentava o Projeto e não tinha nada a ver com o oficio dos bandidos nem da policia. Foi morta. Bem como outros inocentes que ficam à mercê dessa guerra. E se o asfalto se desespera entre automóveis incendiados, os moradores do morro já sofrem com isso há tempos.

Essa reação das facções pelas UPPs significa que as Unidades estão cumprindo sua função nas comunidades onde foram implantadas.  O preço da necessária  pacificação vai envolver ainda mais sangue. Que não seja sangue inocente. Peço isso por Rosangela, Breno, Kevyn, Luciano, Hugo, Alan, Luciana, Thiago, Daniel, Jorge, Mateus, Felipe, Mayara, Dentinho e tantos outros que tem sido pequenos mestres de vida para mim.

João Bani – Rio, 25 de novembro de 2010

quarta-feira, novembro 03, 2010

Joao Bani - Algumas variações em Djembe com vassourinha

Bahia X Coritiba

Vi que o Bahia teve foi muita sorte de não perder o jogo.
O resultado, pelas circunstancias foi positivo pra gente.
O fato de Jael perder o penalti foi "justiça divina". Não foi penalti. Outra jogada reclamada pelo Coritiba, igualmente não foi. Por outro lado, a jogada que o cara do Coritiba meteu a mão na bola foi penalti. Um juiz de um Estado que não figura nem na série A nem na B, apitando jogo de dois campeões brasileiros dá nisso.
Esse time do Bahia  parece, como visitante, jogar contra os adversários da mesma forma como Coritiba jogou contra nós: Articulado, armando as jogadas. Será que a massa os intimida? A responsabilidade?
Jael, definitivamente precisa cair na real , pois está muito inconstante como jogador. Acho que tá rolando, não diria uma máscara, mas um deslumbramento num cara de 20 e poucos anos, que nunca havia experimentado antes a situação de quase idolo diante de uma torcida dessa magnitude.
Parabéns à nossa torcida que, para os que falam em "qualidade", essa coisa quase imensurável numa torcida de futebol, demonstrou uma real qualidade, uma qualidade HUMANA: solidariedade pelo jogador adversário, que, fraturado, saiu de campo aplaudido e apupado pela torcida tricolor.
Torcida que foi até magnânima com o Bahia que, bem abaixo do futebol que poderia apresentar, e diante de um adversário mais competente, saiu aplaudido, mesmo tendo feito um gol e entregue o jogo em tempo tão curto, e logo ao final.
Finalizando , o seguinte: Camisa comemorativa muito bem vinda em homenagem à galegada baiana, mas  é bom usar  quando há algo para comemorar em campo também. Ainda não subimos, e tampouco somos campeões.
Vamos subir primeiro, pra homenagear ou celebrar alguma coisa.
As cores do esquadrão fizeram falta hoje. Ali tem mistica, tem o nosso Estado estampado nas nossas cores e no nosso nome. Esporte Clube[b][blue] Estado da[/blue][red] BAHIA.[/red][/b]
Nossas glórias se refletem nessas cores.

sexta-feira, outubro 29, 2010

segunda-feira, outubro 18, 2010

sábado, setembro 18, 2010

Márcio Araujo: Um legado de Telê Santana

Vendo o futebol corajoso que o Bahia assumiu, eu que não via isso há muito tempo nos quase quarenta anos que acompanho o tricolor-que virou um arremedo de si mesmo a partir de 2003-fui pesquisar mais sobre nosso técnico, esse pacato e humilde senhor que chegou sob pesada desconfiança de uma torcida que não o conhecia, sendo alvo de manifestações de desaprovação, mas sem nunca perder a serenidade.

Milton Neves, twitteiro compulsivo, já se manifestara sobre Marcio no site de relacionamento como "Um dos maiores caráteres do futebol". Até aí tudo bem, mas apreensivos, nós torcedores estávamos à espera de um  técnico que, ainda que marrento e políticamente incorreto que fosse, não importando o caráter,  conseguisse dar  um estilo de jogo ao Bahia coerente com suas tradições, o que Renato, voltando a ser Gaucho no seu Grêmio, não havia conseguido. Teria tentado?

Pesquisando no Google sobre Márcio, esse técnico de currículo e marketing tão discreto como sua própria personalidade, descubro:

Márcio Longo de Araújo (São José do Rio Pardo, 7 de maio de 1960) é um treinador de futebol brasileiro. Atualmente, comanda o Bahia.
Carreira: Sua primeira atuação foi na Sociedade Esportiva Palmeiras em 1997. O início de seu trabalho teve a orientação de Telê Santana. Contudo, por motivos de saúde, Telê ausentou-se do Palmeiras e Márcio conduziu os trabalhos até o fim do Campeonato Paulista do mesmo ano."

Tá explicado.
Márcio potencializa o futebol, como o seu orientador fazia. Quem via o futebol das equipes treinadas por Telê contemplava a coragem na ponta da chuteira, o pragmatismo sem invenções, mas com muita sabedoria. Uma leitura aguda de cada jogo, uma habilidade em modificar as situações que dava a cada jogador a plena confiança na sua capacidade de reverter resultados adversos, o que o Bahia vem conseguindo.
Obrigado, Márcio, por estar vivenciando finalmente seu legado do querido Mestre Telê Santana, no Bahia. Você vai ser muito feliz nesse clube e nós felizes com seu trabalho.
Tenho certeza.

quarta-feira, abril 21, 2010

Ama de Música (Brasília)




                                                           João Bani

Eu tinha nove anos
E você já feito onze
Da Bahia me levaram numa máquina do tempo

Para seios onde em traços de poetarquitetura
deitavam o sonho de Nonô e o chumbo da ditadura

Para seixos dos riachos recortando teu cerrado
Teu recato transbordado
teu mistério desvendido

Tua poesia me chama quando chego em você
nada muito a dizer, minha amante consentida
De ti nasceram meus filhos com a Guanabara
Mais brasileiros, como poderemos ser?

Parabéns, querida ama de música
que me mostrou o céu de frente, o voar no chão
o bater meu tambor no teu Brasil coração

domingo, fevereiro 14, 2010

Carne de Sol, Carne do Sol.

Que me desculpem os vegetarianos, pródigos por uma dieta piedosa com os animais e prudentes com seus sistemas digestivos, mas a carne faz parte da dieta humana sob diversas formas, e muita gente, me incluo, gosta de saborear um bom bife. De tempos para cá, praticamente reduzi à metade o consumo de carne bovina, mas há meios especiais de saboreio dos quais não abro mão. Dividindo espaço com um eventual churrasco, uma carne assada de pá ou peito, ou uma paleta de carneiro dormida em cominho e hortelã, a carne de sol, (ou "do" sol), pontifica entre as especialidades da casa.

A carne de sol tem origens diversas, histórias contadas de todo canto, mas a verdade é que em comum todas as versões se encontram no fato de que alguem precisou um dia salgar a carne para conservá-la em tempos sem geladeira. Quanto mais sal, mais tempo de conserva.Na época do Descobrimento, as carnes, além do sal, eram protegidas de fungos, moscas e suas larvas com sal e muito tempero, as chamadas especiarias, que eram base das transações econômicas da época e citadas pelos historiadores como motivadoras das rotas marítmas que deram outra cara ao mundo.

A carne de sol tem versões diversas de acordo com a região: umas se curtem mesmo ao sol, outras depois de salgadas deitam seu soro sob o sereno. Os cortes variam com as preferências, como mudam os nomes das partes do boi Brasil afora.

As minhas versões preferidas são as da cidade  de Rui Barbosa e da Chapada,  na Bahia, as servidas em Natal RN, Pernambuco, Paraíba e as espetaculares carnes de sol de carneiro e bode de Teresina.

Mas lembro das viagens com meus pais  a Feira de Santana, na Bahia ainda garoto. A feira "de Feira", gigantesca, com gente vinda de todo lugar para vender e comprar, exibia nas suas barracas aquelas mantas enormes de carne do sol, que minha mãe cuidadosamente ia escolhendo, enquanto eu salivava antecipando a hora do almoço que viria  sob a regência daquelas mãos mágicas a preparar um bom pedaço para ser comido com pirão de leite, um feijaozinho, um suco de mangaba...
Patinho, coxão-mole...Mais magra a primeira, mais adiposa a segunda, eram as preferidas de Dona Ruth.

E a cada nascer do sol, essa iguaria volta e meia aparecia na mesa lá de casa. Depois, morando em Brasilia, aproveitamos a boa presença nordestina no lugar para continuar no hábito. Mas sempre, comprando pronta em açougues onde um bom nordestino conservava carne e cultura. E assim aderiram também ao gosto a minha companheira e os nossos filhos.

Aqui no Rio, ao chegar, percebi que carne do sol não se encontra em todo lugar, perto de casa. É preciso que se procure restaurantes especializados, ou então indo direto à Feira de São Cristóvão, onde o que não falta é opção para se comprar,  seja nos restaurantes ou nos açougues.
Vindo com a força do hábito, era pouco para mim. Não ter carne do sol no açougue da esquina era o fim. Resolvi fazer a minha própria. O sertão bravio clamava no meu estômago. As caravanas vencendo a caatinga do interior baiano rugiam no DNA. Brumado, Boninal, Seabra, Lençois...A rude carne do sol que se apaziguava as faces ensolaradas e curtidas do sertão baiano chamava o frugal bife com fritas e feijãozinho preto carioca de "fulêro".

Parti para um açougue, comprei um bom pedaço bem gordo de chã (como chamam aqui o coxão-mole), e o coloquei na tábua. Abri lateralmente, no sentido da gordura para baixo, um bifão de uns 3,5 cm de altura até pouco antes de transpassar. Em forma sanfonada (tudo a ver!), no corte, voltando no sentido contrário, fui dando forma àquela peça que seria a primeira de muitas.Salguei, com sal fino (é melhor para controlar a quantidade. O sal grosso passa do ponto muitas vezes), deixando a mesma com uma crosta esbranquiçada de sal e a deitei numa vasilha grande. Seis horas marinando, escorri o soro, salguei de novo. Quatro horas marinando, escorri mais soro e acrescentei um copo  de leite integral, onde ficou por mais 4 horas. (O leite redistribui e equilibra o sal, retirando o excesso sem tirar o sabor da carne, como a água faria. A carne de sol desse preparo não precisa escaldar nem por de molho.) Continuando,  já  de noite, pendurei a danadinha  protegida por um filó  e a deixei serenar, a retirando no final do dia seguinte...Estava pronta a minha vingança cultural, satisfeito meu paladar e fica como receita para quem ler.

Só lembrando: Carne de sol e carne-seca ou charque, são coisas diferentes. Cuidado com a pressão alta!

abraços

João Bani