Moro no Rio desde 1995. Cheguei aqui no momento crescente ao ápice da violência urbana da capital carioca. Graças a Deus, nunca fomos alvos de abordagens violentas, agressões. Infelizmente meus filhos tiveram seus celulares roubados, por adultos desarmados, eles ainda crianças. Não foram agredidos, sempre os instrui a como agir nesses casos. Mas nada além disso, que aliás já foi bastante revoltante.
Nos primeiros meses aqui no Rio, houve noites em que eu não conseguia dormir, com o som dos tiroteios entre facções do tráfico, disputando os morros da Tijuca, onde morei inicialmente. O som dos tiros era algo comum, os lugares a serem evitados eram muitos, a tensão era constante. Mas os cariocas que eu conhecia repetiam: "Isso é em todo lugar! Toda cidade é violenta!"
Como músico, eu viajava pelo Brasil, até esquecia do som dos tiroteios. De volta ao Rio ,mal passava pela Linha Vermelha e tome som de tiro. Por vezes até correndo risco de ser atingido. E os cariocas: "Isso é em todo lugar! Toda cidade é violenta!"
Chacinas, gente morta e torturada, bondes cruzando a cidade, arrastões, mais e mais tiroteios, mortos por bala perdida, aleijados por bala perdida, e o carioca: "Isso é em todo lugar! Toda cidade é violenta!"
Um garoto é arrastado vivo se despedaçando no asfalto, por assaltantes, um helicóptero é derrubado por bandidos, um jornalista é torturado e morto e o carioca:
Bem.. o carioca começou a perceber que isso não ocorria em toda cidade do Brasil, Ou começou a admitir e colocar o orgulho e o bairrismo no seu devido lugar: no lixo. Porque enquanto se achar que o problema é menor porque seria "dos outros também", ele vai crescendo no nosso quintal.
Se liga, Salvador.